Aos 22 anos, Luna Gouveia estreia com um dos álbuns mais intensos, maduros e emocionais lançados por uma artista brasileira nos últimos tempos. O disco, intitulado SARA, não é apenas um conjunto de canções — é um processo de cura em forma de som, uma travessia que vai do caos ao reencontro, da dor ao florescimento.
Gravado entre o final de 2024 e o início de 2025 no Buena Familia Studio, sob produção de Dudinha — músico experiente que já trabalhou com grandes nomes da música nacional —, SARA é a síntese de uma artista que parece compreender a força da vulnerabilidade e a beleza de se despir das máscaras.
“A Luna gravando voz é impressionante. Não tem uma edição de voz, nenhuma manipulação de afinação. Ela canta com total consciência melódica — isso é algo raro hoje em dia”, comenta o produtor.
E é verdade. Basta ouvir os primeiros segundos da faixa-título “SARA” para entender o que ele quer dizer: a voz de Luna tem algo de cru e encantador, um timbre que soa como cicatriz e alívio ao mesmo tempo. Ela canta com emoção verdadeira — sem artifícios, sem disfarces — e é impossível não ser tocado por isso.
Entre a delicadeza e a catarse
Com influências que atravessam a poesia de Gilberto Gil, a psicodelia d’Os Mutantes, a intensidade de Elis Regina e a alma de Amy Winehouse, Luna constrói uma identidade sonora que é ao mesmo tempo atemporal e moderna.
Ela dialoga com a nova cena — nomes como Dora Morelenbaum e o experimentalismo do Beirut —, mas imprime sua própria estética, com arranjos que flertam com o indie brasileiro, o pop alternativo e a tradição da MPB.
SARA soa como um espelho da alma de sua geração — pessoas sensíveis tentando respirar em meio ao excesso, buscando autenticidade num mundo que corre rápido demais.
Uma jornada em oito capítulos
O álbum é composto por oito faixas autorais, e cada uma parece representar uma etapa emocional.
“Culpa” é o grito abafado de quem ainda tenta entender o próprio vazio — uma confissão embalada por acordes melancólicos e vocais que soam quase como um sussurro em meio ao escuro.
“Diz Que É Amor” mergulha nas contradições afetivas, na insegurança e no medo do espelho — com uma entrega vocal de tirar o fôlego.
Em “Fora de Moda”, Luna questiona o ego e a vaidade contemporânea, enquanto o instrumental brinca com camadas que lembram o tropicalismo em sua fase mais ácida.
“Mordida” e “Voltar Andar” trazem o equilíbrio perfeito entre lirismo e leveza — são canções que abraçam o ouvinte com uma sinceridade desarmante.
Já “O Fim” encerra o disco com um suspiro, quase um renascimento. É um adeus e um recomeço.
A voz como instrumento de cura
O título do álbum — SARA — é mais do que simbólico. É um verbo, um movimento. Representa o fechamento de ciclos, a libertação de traumas e a redescoberta do próprio corpo, da própria voz.
E é justamente a voz de Luna Gouveia que conduz essa cura.
Em tempos de produções excessivamente polidas, ouvir uma cantora que não tem medo de soar real é quase revolucionário. Há momentos em que sua voz é doce e acolhedora, e outros em que explode em força, como um vendaval. Essa dualidade faz de Luna uma artista rara — alguém que transforma fragilidade em potência.
“Tenho certeza que a Luna será um dos grandes nomes de sua geração”, afirmou Fernando Sanches, produtor musical respeitado na cena.
E é difícil discordar. O que se ouve em SARA é o nascimento de uma voz que não apenas canta — ela sente, ela vive o que canta.
Um novo nome para guardar
Com SARA, Luna Gouveia mostra que é possível ser pop e profunda, moderna e atemporal. Sua arte carrega a leveza da juventude e a densidade de quem já viveu o bastante para transformar dor em beleza.
É um disco que cura.
Um disco que sussurra e grita.
E, acima de tudo, um disco que anuncia uma artista com potencial para ser um fenômeno da nova música brasileira.
Vale — e muito — ficar de olho em Luna Gouveia.
Porque SARA é só o começo.
